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Postado por: Carlos Henrique
Data: 30/03/2025Concessão da BR-364
Para ilustrar as vivandeiras:
uma contribuição ao debate
sobre concessão da BR-364A discussão em torno do leilão do trecho rondoniense da BR-364, realizado nesta quinta-feira, na Bolsa de Valores de São Paulo, ainda mobiliza muita gente desinformada. Especialmente nas redes sociais, mas não apenas ali, já que parte significativa dos articulistas locais bebe daquela fonte. E reverberam o que rola por lá! Sobretudo para embutir na manifestação as lágrimas e lamentos de espíritos ainda não serenados, apaziguados ou reconfortados das vivandeiras derrotadas nas eleições/2.022.Os insistentes, intempestivos e inócuos pedidos de adiamento do leilão insistiam em privilegiar a discussão do acessório, para exigir novas audiências públicas ou condenar a cobrança de pedágio. São manobras meramente protelatórias, conduzidas por quem sabe que, como adverte o senador Confúcio Moura, qualquer adiamento pode mandar o projeto para as calendas. O leilão da BR-364 - convém lembrar – é o primeiro de uma fila de 14 outros, em estados política e economicamente muito mais poderosos que Rondônia.Ademais, a BR-364 está longe de ser economicamente atrativa, conforme lembrou, num rasgo de sincericídio, o engenheiro Lúcio Mosquini, por enquanto deputado do MDB. Se o negócio, afinal, fosse assim tão bom, porque apenas um grupo se apresentou para o leilão? Acontece que o mais significativo volume de veículos que usa a rodovia é composto por carga pesada, geralmente superior à cota máxima permitida. Isso amplifica sobremaneira os custos de manutenção de uma rodovia projetada para o século passado.E ninguém falou sobre a trafegabilidade da rodovia, que há muito já atingiu a exaustão, com tendência a piorar. Pelas contas do Ministério dos Transportes, perto de 12 milhões de toneladas de carga trafegaram por ela em 2024. Para este ano, a se confirmarem as projeções do agronegócio, a produção deverá crescer perto de 10%. Isso vai elevar para 13,2 milhões de toneladas o volume transportado pela rodovia. Isso é carga para 231,58 mil caminhões tipo bitrem, cada um com 57 toneladas de grãos.O tamanho desse hipotético comboio pode ser calculado multiplicando por 30m – comprimento máximo de um bitrem – o total de veículos. O resultado é uma fila de 6.947,4 quilômetros, um colado no outro, mais de dez vezes o trecho de 687,7 quilômetros leiloado. Imagine o tamanho do risco a que se submete você, usuário da BR.O projeto de concessão da chamada “Rota Agro Norte” prevê contrato de 30 anos, com investimentos de R$ 6,53 bilhões em obras estruturantes, além de outros R$ 3,9 bilhões em manutenção, ultrapassando R$ 10,4 bilhões. O projeto inclui a duplicação de 114 km da estrada, mais 200 km de faixas adicionais (terceira pista), 20 passarelas de pedestres e 19 km de vias marginais. Além de pesados investimentos em correção de pontos críticos, segurança e apoio ao usuário, entre outras intervenções.Disponível no site da ANTT desde 1º de novembro de 2024, o edital da concessão estabelece que o vencedor do leilão seria aquele que oferecesse o maior desconto sobre a tarifa básica de pedágio. Isso ficou obviamente prejudicado com a apresentação de um só candidato. Mas o modelo, segundo o órgão, mantém o padrão já adotado com sucesso em outras rodovias já privatizadas no país, assim como nas 14 outras concessões rodoviárias que o governo federal pretende realizar neste ano.De qualquer forma, imagino que uma negociação bem conduzida possa resultar em alterações no cronograma de obras estabelecido no projeto original da ANTT, já que a disponibilidade de recursos já está prevista no BNDES. Desde, claro, que faça algum sentido, como antecipar a conclusão das obras do arco norte, para retirar o tráfego pesado do centro urbano da capital, projetadas para conclusão até o sexto ano do contrato. Contudo, a relação custo-benefício da concessão é amplamente favorável ao usuário, ainda que mantido o preço inicial do pedágio.É fundamental considerar que entram na conta a economia de combustível, o custo da manutenção do veículo, menor desgaste de pneus e suspensão, a redução do tempo de viagem e mais segurança para motoristas, cargas e usuários de forma geral, com redução no número de acidentes e roubo de cargas. Quem conhece a realidade das rodovias privatizadas no país pode atestar que o pedágio acaba não impactando o custo da viagem ou do frete.O estado também ganha com a geração de mais de 90 mil empregos diretos e indiretos ao longo da rodovia durante a execução. Além disso, a empresa responsável terá de executar obras significativas, incluindo a duplicação de 107,57 quilômetros, a construção de 190,59 quilômetros de faixas adicionais, modernização de pontos críticos e implantação de 34,45 quilômetros de novos acessos.E mais: os recursos hoje destinados à manutenção da rodovia pelo Ministério dos Transportes poderão ser aplicados nas demais vias federais de Rondônia. Por outro lado, sem investimentos pesados em obras estruturantes da BR-364, o estado corre o risco de perder a carga de grãos do Mato Grosso, que pode ser direcionada para a BR-163, que liga Cuiabá a Santarém. Segundo a Antac, o transporte de grãos corresponde a 84,7% da carga transportada pela hidrovia do Madeira, 70,9% de soja e 13,8% de milho. Sem isso, obviamente, estará economicamente inviabilizado o empreendimento.

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